Vice-presidente da UGEIRM participa de Seminário “Mulheres e a Segurança Pública no Enfrentamento à Violência de Gênero”
A Vice-presidente da UGEIRM, Neiva Carla Back, participou, na última segunda-feira (4), do Seminário “Mulheres e a Segurança Pública no Enfrentamento à Violência de Gênero”, promovido pelo mandato de deputado estadual Leonel Radde (PT). O Seminário, que aconteceu na Assembleia Legislativa, debateu, em cinco painéis que se desenvolveram durante a tarde toda, os diversos aspectos que envolvem o trabalho de mulheres na linha de frente de combate às violências de gênero. Painelistas que atuam através de estudo, acolhimento, apoio jurídico e formas inovadoras de enfrentamento aos casos de violência contra as mulheres, debateram com os presentes as políticas necessárias para enfrentar a violência de gênero no nosso estado.
Na abertura do Seminário, o deputado Leonel Radde, lembrou que o RS é o estado brasileiro com mais mulheres na Polícia Civil (41,3% do efetivo) e o terceiro em ocupação funcional feminina na Polícia Militar (20,9%). As duas forças de segurança gaúchas têm índices superiores à média nacional. Os dados são do Raio X das Forças de Segurança Pública do Brasil, divulgado nesta semana pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Isso exige que traga algo positivo para as corporações, qualificando o trabalho, mas também exige políticas públicas”, disse o deputado Leonel Radde.
Neiva destaca necessidade de se discutir a violência que as mulheres sofrem dentro das instituições

Em sua exposição, Neiva Carla Back, demonstrou que as servidoras da Segurança Pública também são vítimas de violência. De acordo com a Vice-presidente da UGEIRM, os espaços de trabalho podem ser ambientes muito ruins para as mulheres. Além da questão salarial, há a dificuldade de ocupar postos de chefia, especialmente em profissões onde a maioria são homens. Neiva Carla observou que “ninguém fala sobre a violência que as mulheres sofrem dentro das instituições”. Fazendo um histórico das mulheres na Polícia Civil, ela recordou que as primeiras agentes policiais ingressaram em 1970 e sequer havia banheiro para as mulheres. As mudanças só começaram 30 anos depois. “Hoje somos 41% do efetivo, mas ouvi de colegas que isso era muito ruim, que não deveria ter tanta mulher”, lamenta Neiva Carla. Segundo ela, foi somente no governo Tarso Genro que as mulheres tiveram direito de se afastar da atividade de risco quando engravidassem. “Até ali, contávamos com a benevolência do chefe. Se ele decidisse que grávida com nove meses tirava plantão de 24 horas, ela tinha que fazer”, relembra Neiva Carla.
A Escrivã Graziela Silva discutiu o viés racial da violência contra as mulheres

A Escrivã de Polícia da Delegacia de Combate à Intolerância, Graziela Silva, também participou da discussão. Em sua fala, Graziela fez questão de focar na questão racial, lembrando que as mulheres são as maiores vítimas dos crimes de racismo e as mulheres negras são, também, grande parte das vítimas da violência de gênero. Herança do nosso passado escravista, a mulher negra ainda é encarada, na sociedade brasileira, como a mulher fácil, com seus corpos sendo encarados como objeto. Graziela lembra que a maior parte dos crimes de racismo e injúria racial que chegam à Delegacia de Combate à Intolerância, acontecem no ambiente doméstico, entendido como todo o entorna da moradia, e tem como maiores vítimas as mulheres. Graziela também destacou a importância de se discutir a participação das mulheres negras na polícia civil. Pois, essa é uma questão que vai fazer a diferença, inclusive, no atendimento às mulheres vítimas de violência, pelo fato de que boa parte dessa violência, além da questão de gênero, é atravessada pela questão racial. Graziela terminou a sua fala chamando a uma reflexão: “nós, mulheres negras, estamos há tanto tempo buscando e lutando por igualdade, por direitos e por respeito, mas estamos realmente ascendendo e atingindo esses locais de poder?”.
Promotora Legal Polular chama a atenção para a formação das mulheres da Segurança Pública
A Presidenta da Associação de Promotoras Legais Populares, Fabiane Lara dos Santos, também lembrou a importância da formação das policiais que ingressam nas forças de segurança: “acho ótimo termos mais mulheres dentro do batalhão, dentro da Polícia Civil, mas eu quero entender aonde está a formação desses policiais. Quem realmente faz com que essa segurança tenha um olhar humanitário, de compreensão e proteção real?”. Fabiane Lara também ressaltou a necessidade da existência de uma rede de atendimento e acolhimento às mulheres, sustentando que não é possível que uma mulher fique três quatro horas dentro e uma Delegacia de Polícia. “Precisamos ter uma rede forte, de políticas de estado. Não se pode ter uma Rede Lilás e depois acabar com ela por falta de recursos e por falta de visão de governo. O governo tem que ter essa prioridade”, defendeu.

A Vice-presidente da UGEIRM, Neiva Carla, destaca a importância de que esse tipo de evento aconteça com mais frequência: “a realização desse Seminário é muito importante. Mas, a discussão sobre a situação das mulheres nas forças de segurança e do atendimento das mulheres vítimas de violência, precisam se tornar um hábito. Não podemos esperar as comemorações do 8 de março, para discutirmos temas que são tão urgentes. É preciso que o Poder Público, incluindo o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, criem espaços para que as mulheres que atuam na Segurança Pública possam debater suas condições de trabalho e possam participar da elaboração das políticas de combate à violência de gênero”, conclui Neiva Carla.