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Luto: Escrivão de Guaíba é morto quando cumpria mandado de busca e apreensão em Butiá

O escrivão de polícia Daniel Abreu Mendes, de 40 anos, lotado na Delegacia de Guaíba, foi morto na manhã desta terça-feira (21), quando cumpria um mandado de busca e apreensão na cidade de Butiá, na região carbonífera. Segundo informações da Polícia Civil, a ordem judicial tinha como um dos alvos uma mulher investigada por tráfico de drogas. Daniel foi atingido por um dos moradores da casa, que reagiu quando a equipe chegou à residência. De acordo com informações preliminares, o assassino é um adolescente de 17 anos, supostamente companheiro da mulher que era alvo do mandado de busca e apreensão e que, de acordo com informações, já posssui antecedentes por homicídio. Daniel chegou a ser socorrido, mas não resistiu. A mulher foi presa em flagrante e o assassino foi apreendido.

O escrivão Daniel Abreu Mendes era natural de Brasília e ingressou na Polícia Civil na penúltima turma de aprovados, em maio de 2023. Sua primeira lotação foi na cidade de Tapes, sendo transferido posteriormente para Guaíba. A operação de combate ao tráfico de drogas, desta terça-feira, é da Delegacia de Butiá e contou com o apoio da Delegacia Regional de Guaíba, onde Daniel trabalhava.

Não podemos mais aceitar mortes de policiais civis em operações

Em 2019 a UGEIRM já alertava e cobrava uma avaliação aprofundada sobre os procedimentos nas operações policiais. Na época, um colega havia sido morto durante uma operação policial. De lá pra cá, essa discussão não foi encaminhada e, mais uma vez, vemos um colega perder a vida durante uma operação policial.

A inação e falta de providências do governo em relação a essas cobranças, o torna, no mínimo, omisso diante da morte de mais um policial. O governo Eduardo Leite, a Secretaria de Segurança e a Polícia Civil insistem nesse modelo de operações, que tem levado os colegas à exaustão colocando suas vidas em risco. Essa tragédia exige uma mudança de protocolo por esses organismos que são responsáveis pela vida dos policiais. Não é uma simples coincidência que quase todas as mortes de policiais civis nos últimos anos, tenham acontecido durante essas operações. Para um policial civil, sair para realizar uma dessas operações, tem significado um verdadeiro risco à sua vida. Talvez o governador nunca tenha experimentado a sensação de sair para realizar o seu trabalho e não saber se vai voltar para rever a sua família. Se soubesse o que é essa sensação, certamente não trataria as medidas propostas pelo sindicato com o desdém com que tem tratado.

É inadmissível que nem mesmo os procedimentos mínimos traçados pela própria polícia civil venham sendo seguidos. A desobediência à portaria que exige que sejam, no mínimo, cinco policiais durante as operações, que não se separe policiais da mesma Delegacia e o fornecimento de materiais básicos como aríete, corta corrente, pé de cabra, entre outros, representa um grande risco a vida dos policiais. Não podemos mais admitir que ocorram operações policiais sem o uso de escudos balísticos. Se isso tivesse ocorrido nessa manhã, talvez o escrivão Daniel ainda estivesse vivo. Além disso, essas operações são realizadas sem a presença de uma ambulância com UTI, uma providência básica e fundamental que pode salvar a vida de um policial. Também é necessário que os policiais tenham um treinamento permanente para o aperfeiçoamento dessas situações de entrada em locais de crime.

O Vice-presidente da UGEIRM, Fabio Castro, lamenta que “em um momento desses, em que deveríamos estar focados apenas em consolar os familiares e viver a nossa dor, temos que cobrar do governo as mínimas condições de trabalho. Infelizmente, somente quando acontece uma tragédia, os policiais civis são ouvidos. Essa verdadeira sanha midiática por números, tem colocado nossa vida em risco. É preciso que o governo e a sociedade olhem a situação da nossa categoria. A morte de um policial deve ser um momento de reflexão. Não podemos mais conviver com operações diárias, com deslocamentos enormes, sem efetivo suficiente e sem planejamento”. Fabio lembra que “o escrivão Daniel tinha menos de dois anos de polícia, saiu da Acadepol em maio de 2023. Quando saiu, certamente gastou seu dinheiro para comprar seus próprios equipamentos de segurança, pois a Polícia Civil não fornece um kit APH para os novos policiais, o que é um absurdo. O Governo precisa rever todos os procedimentos das operações policiais para que novas tragédias não aconteçam”.

O presidente da UGEIRM Isaac Ortiz, destaca que “a categoria está consternada. A perda de um colega em serviço é um golpe sempre muito difícil de assimilar. Sabemos que o nosso trabalho sempre tem um risco grande, mas nunca estamos preparados para lidar com a perda de um policial civil. Daniel tinha acabado de começar a sua trajetória na polícia civil e tinha um grande futuro na nossa instituição. É muito difícil de mensurar a dor dos familiares e dos colegas que trabalhavam cotidianamente com Daniel. Nesse momento de tanta dor e tristeza, o principal é acolhermos e cuidarmos dos familiares e dos amigos do escrivão Daniel. A UGEIRM está apurando as circunstâncias da morte do nosso colega e vai cobrar do Governo que sejam garantidos todos os direitos da família dele, pelo estado, como a pensão integral por morte em serviço. O Sindicato também vai organizar um protesto pra chamar a atenção da sociedade para a realidade do trabalho policial no nosso estado”.