Novas policiais civis cortam e doam cabelos para confecção de perucas para crianças na luta contra o câncer em Porto Alegre

Cadeiras, espelhos, tesouras e secadores. O cenário do terceiro andar do Palácio da Polícia, em Porto Alegre, foi transformado por algumas horas na manhã desta segunda-feira (28). Tudo em nome de uma ação solidária. Treze novas agentes, que se formam nesta semana, decidiram cortar e doar seus cabelos para a confecção de perucas que serão entregues a crianças e adolescentes na luta contra o câncer.  

Inspetora em formação, Dáphini Sampaio, 25 anos, natural de Jaguarão, no sul do Estado, foi a primeira a ter as madeixas cortadas. A jovem acredita que contribuir em projetos como o mantido pela ONG Cabelaço é uma forma de crescimento pessoal. Ao lado dela, a futura escrivã Camila Oliveira, 39 anos, ressalta que seu propósito ao ingressar na Polícia Civil era justamente poder ajudar as pessoas.

—  O lema da polícia é servir e proteger. Nós somos policiais porque queremos ajudar a população. Já estamos entrando para a corporação podendo fazer isso — comemorou, enquanto passava pelos últimos retoques no salão improvisado.  

Apegada às mechas, Siméia Brum dos Santos, 30 anos, foi a terceira a passar pelo corte. A futura inspetora garante que a sensação de poder ajudar é recompensadora. 

— Achei ótima a iniciativa. É a primeira vez que estou doando. Contribuir para elevar a autoestima de alguém compensa, sem dúvidas — disse.  

As novas policiais receberam o incentivo da chefe da Polícia Civil, que acompanhou a formatura solidária. A delegada Nadine Anflor contou que a ideia surgiu após outro evento do tipo, realizado com os novos delegados e delegadas, que fizeram doação de sangue.   

—  Para o mês de outubro (em alusão ao Outubro Rosa) pensamos que precisávamos de algo. Muito obrigada por vocês terem topado essa ideia. Doar os seus cabelos, que para nós mulheres é algo que nos pertence tanto. Esse simbolismo de vocês é histórico. A nossa missão é ajudar outras pessoas. Tenho certeza que esse simbolismo vai inspirar muitas outras mulheres, outras policiais, a doarem —  afirmou. 

Doações  

Mesmo aquelas que não cortaram as madeixas nesta manhã encontraram uma forma de auxiliar. Foi o caso de Simone Abe, 32 anos, que levou as mechas dela — cortadas em janeiro — e também as da irmã. A futura escrivã já conhecia o trabalho da ONG Cabelaço e do Projeto Camaleão pelas redes sociais. Inclusive, já doou seus cabelos em outra oportunidade.

— São projetos que lidam com a autoestima. As pessoas por vezes não percebem a importância que isso tem, inclusive para auxiliar no enfrentamento da doença. Faz muita diferença — disse.  

É a primeira vez que estou doando. Contribuir para elevar a autoestima de alguém compensa, sem dúvidas

SIMÉIA BRUM DOS SANTOS

INSPETORA EM FORMAÇÃO

Policial militar no Espírito Santo, Helaine Alvarino, 31 anos, mudou-se para o Rio Grande do Sul para realizar o curso de escrivã. Para o projeto, decidiu doar o aplique que usou por seis meses, quando precisou cortar os cabelos bem curtinhos para se livrar de anos de uso de química. Ela já pretendia ter doado as madeixas, removidas antes do início do curso.  

— Resolvi trazer esse cabelo que me ajudou quando eu precisei. O cabelo é algo importante, que ajudar a nos dar segurança. Espero que sirva agora para ajudar outra pessoa — afirmou.  

Além das novas agentes, mais três servidoras em atuação — duas do Instituto-Geral de Perícias (IGP) e uma da Polícia Civil —  fizeram a entrega de mechas.  

Lenços 

Além dos cabelos, a iniciativa arrecadou roupas e lenços doados para o Projeto Camaleão, que auxilia pacientes na luta contra o câncer a recuperarem e reforçarem a autoestima. Foi o caso de Diogo Jacques, 40 anos, prestes a se formar como inspetor, que levou lenços para doação. Os acessórios foram entregues a ele pela sogra, Vera Soares, que venceu a luta contra o câncer de mama em 2005.  

— Quando eu comentei que vinha aqui hoje, ela decidiu enviar os lenços, que também recebeu de outras pessoas que venceram a doença. A ideia é criar uma corrente solidária —disse.  

Junto dos lenços, Vera incluiu um bilhetinho onde conta que foram presentes de duas amigas, que, assim como ela, superaram o câncer. Por fim, deixou uma mensagem de incentivo para quem for contemplada com os mesmos lenços: “Tu vais ser mais uma vencedora”, escreveu.  

O cabeleireiro  

Parceiro da ONG Cabelaço, Gylson Collares foi o responsável pela primeira mecha cortada. Ao lado dele, outros dois profissionais voluntários atenderam as novas agentes: Aline Rosa e Bruno Fugimoto. Em oito anos de envolvimento em ações junto ao projeto, o cabeleireiro participa também da entrega das perucas para as meninas.  

Collares recorda que, no primeiro evento como voluntário, ao se perceber num universo hospitalar, muito diferente do que está acostumado, ficou em dúvida se conseguiria seguir ajudando. Foi quando uma das meninas que havia recebido a peruca se aproximou e pediu: 

—  Tio, retoca minha maquiagem.  

Emocionado, ele lembra que aquele sorriso fez com que decidisse seguir em frente.  

— A arrecadação de cabelos é algo louvável. Mas pode ter certeza que a gente ganha mais do que está dando. É recompensador —  garantiu.   

A formatura Os aprovados no concurso foram convocados em janeiro e iniciaram o curso de formação em março. A cerimônia oficial da formatura ocorre na próxima quinta-feira (1°), também no Palácio da Polícia. Devem realizar a formatura 127 inspetores e 131 escrivães — num total de 258 novos policiais. Para familiares e amigos, que não poderão comparecer para evitar aglomerações, a formatura será transmitida pela internet. 

COMO DOAR CABELOS 

  • Antes de cortar, lave e seque bem os cabelos.  
  • Amarre a mecha antes de cortar – pode ser feito com uma borrachinha.  
  • Corte acima de onde está preso.  
  • A mecha a ser doada precisa ter, pelo menos, 15 centímetros de comprimento.  
  • Embale a mecha para que fique protegida (pode usar uma caixa ou um saco plástico vedado, por exemplo).  

ONDE ENTREGAR  

  • A entrega pode ser feita no ponto de coleta identificado dentro do Hospital da Criança Santo Antônio, em Porto Alegre, no térreo (Avenida Independência, 155, Centro Histórico).  
  • Também é possível endereçar os cabelos para a Caixa Postal 21454 – Rua Jary, número 78 – CEP 91350-971 – Porto Alegre-RS, para Marry Perucas & Cabelaço

Fonte: Gaúcha ZH