Novo líder de Bolsonaro defende toma lá dá cá para ‘enfrentar servidores públicos’

O deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR) assumiu a liderança do governo na Câmara, como forma de consolidar da aliança de Jair Bolsonaro com os partidos que compõem o chamada Centrão. Barros já assumiu deixando claro que o apoio do Centrão ao governo terá um preço, que será cobrado com a distribuição de cargos na administração pública. Em consonância com a sua posição em defesa do clientelismo e do uso da administração pública para conseguir votos, Barros também defendeu um ataque frontal aos direitos dos servidores concursados, através da reforma administrativa. Afinal, esses servidores, que estão no serviço público pela sua competência e não por apadrinhamento, são verdadeiros obstáculos a essa política que o governo Bolsonaro quer implementar.

Para novo líder de Bolsonaro “servidores abduziram orçamento da União”

Mostrando afinação com a visão do ministro da Fazenda, Paulo Guedes, Ricardo Barros também defende o enfrentamento ao que ele chama de “corporação dos servidores”. Em entrevista à rádio Eldorado, o novo líder afirma que o grande obstáculo à reforma administrativa será a resistência dos servidores. “Claro que há sim uma grande resistência da corporação de servidores públicos que abduziu o Orçamento da União. Mas vamos enfrentar essa corporação, vamos enfrentar as dificuldades que aparecerem para que os brasileiros, em especial os contribuintes e aqueles que precisam do auxílio do Estado, sejam prioridade, e não a corporação dos servidores que levaram a grande vantagem nas discussões orçamentárias.”

De acordo com Ricardo Barros, os servidores que estão na linha de frente do combate ao Coronavírus são os grandes responsáveis pelo governo não atender os mais necessitados da sociedade. Essa visão está totalmente em consonância com a posição do governo Bolsonaro. Uma demonstração dessa visão, é a proposta de vincular a criação do Renda Brasil, programa que substituirá o Bolsa Família, aos ataques aos direitos dos servidores públicos. A ideia de Bolsonaro, é enviar ao Congresso, de forma conjunta, a proposta de criação do Renda Brasil e as propostas contidas na reforma administrativa.

Para aprovar propostas, líder admite a distribuição de cargos e verbas para parlamentares

Na mesma entrevista, Ricardo Barros afirma que “é absolutamente justo” que o governo distribua cargos no serviço público aos partidos que apoiarem as propostas do governo. Nas palavras do líder do governo Bolsonaro: “a nossa Constituição tem o presidencialismo de coalizão e é absolutamente justo que os partidos que vão dar governabilidade, que vão permitir o governo aprovar matérias que ele prometeu na campanha, tenham elementos de seu partido no governo, fazendo o programa de cada partido, é assim que funciona o Brasil”.

É importante lembrar que, durante a sua campanha, Jair Bolsonaro se comprometeu a acabar com o que ele mesmo chamava de toma lá dá cá. Mesmo depois de tomar posse, Bolsonaro continuou com seu discurso contrário às negociações com o centrão: “A Justiça nasceu para todos e cada um responda pelos seus atos. O que levou a essa situação, pelo que parece, são os acordos políticos dizendo-se em nome da governabilidade. A governabilidade você não faz com esse tipo de acordo, no meu entender”, falou em 21 de março de 2019. Em abril do mesmo ano, Bolsonaro dizia que o velho tinha ficado para trás: “Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás, nós temos um novo Brasil pela frente”. Pelo jeito, a possibilidade de pedido de impeachment e a dificuldade de aprovar seus projetos no Congresso, fizeram o presidente recuar e se render ao Centrão. O problema é que esses acordos são feitos com dinheiro público e para atacar os servidores públicos.

Em uma coisa o representante do Centrão e líder do Governo tem razão: os servidores vão resistir às propostas do governo Bolsonaro. Mas essa resistência será para não permitir que a administração pública seja utilizada para interesses políticos particulares. A defesa dos servidores públicos concursados, é a defesa de que o dinheiro público seja utilizado no combate à pandemia do Coronavírus e não para comprar votos no Congresso, como tem sido a prática há muitos anos no nosso país. Se o governo realmente quer destinar dinheiro aos mais pobres, deveria procurar esse dinheiro nos mais ricos do país, que apoiam as políticas de Paulo Guedes.

Se, durante a pandemia, os trabalhadores perderam seus empregos e os servidores públicos tiveram seus salários congelados e pagos em atraso, o patrimônio dos super-ricos brasileiros cresceu US$ 34 bilhões entre março e julho. Se esse dinheiro fosse taxado, sobraria dinheiro para implementar o Renda Brasil, em precisar cortar os investimentos em saúde, segurança e educação, como pretende o governo Bolsonaro.