Sartori quer fazer aqui, o que o PMDB fez com a polícia no RJ

No último fim de semana, o Rio de Janeiro alcançou uma estatística estarrecedora: 97 policiais militares e 4 policiais civis mortos em 2017. É uma média de 1 policial morto a cada 2 dias. Em todas as notícias, a análise recorrente é que o Rio vive uma guerra e esses policiais seriam as principais vítimas. Uma grande mentira! O que o Rio de Janeiro vive é um extermínio sem precedentes. A grande maioria dos policiais mortos são oriundos das camadas mais baixas da sociedade, vítimas de uma política que acabou com o Rio de Janeiro.

Policiais mal remunerados, trabalhando em condições sub-humanas, são empurrados para um confronto onde a única opção é matar ou morrer. As políticas de segurança colocam nas costas dos policiais a responsabilidade de resolver todos os problemas da segurança pública. Como se diz no RJ, o único serviço público que chega nas favelas é a polícia. As UPPs, implementadas como solução para a violência na capital, estão completamente falidas. Se, no início, representaram uma certa melhora nos índices de violência, a sua falência mostra que uma política que segurança que se sustenta apenas na ação policial é, na prática, insustentável.

Governos do PMDB acabaram com o Rio de Janeiro

Essa explosão na morte de policiais vem no momento mais agudo da crise do Rio de Janeiro. Atualmente, o estado tem um ex-governador preso, o atual sob ameaça de cassação e prisão e o último prefeito da capital acusado de ter recebido mais de R$ 15 milhões em propinas. Além das acusações de corrupção, outro detalhe une todos eles, a filiação ao PMDB. Não se trata de uma simples coincidência. Além do traço comum da corrupção, todos os governos basearam sua concepção de Estado no ataque aos servidores e no desmonte dos serviços públicos. O caixa do governo está completamente quebrado. Os servidores chegam a acumular até três meses de atraso de salários.

A solução apresentada pelo governo do PMDB é a renegociação da dívida com a União. Porém, para assinar o acordo, é necessário privatizar estatais, congelar salários dos servidores, proibir investimentos e acabar com direitos dos servidores públicos. No Rio de Janeiro, o governo conseguiu aprovar as propostas na Assembleia Legislativa e o resultado foi um aprofundamento da crise, refletida na explosão de mortes de policiais.

Governo Sartori/PMDB segue no mesmo caminho

Aqui no RS, passamos pelo que os cariocas passaram no primeiro governo Sergio Cabral Filho. Com uma diferença substancial: hoje vivemos uma crise nacional, onde os recursos não existem. Se Cabral conseguiu, no Rio de Janeiro, camuflar a quebra do estado durante um tempo. Aqui, Sartori/PMDB não tem como fazer isso. E para “solucionar” a crise propõe o mesmo remédio do PMDB carioca. Asssinar a renegociação da dívida, vender estatais, proibir reajustes dos servidores públicos, acabar com direitos, como a aposentadoria policial, e hipotecar o futuro do estado.

Na área da segurança pública, o remédio também é o mesmo do Rio de Janeiro. Jogar toda a responsabilidade nas costas da polícia, como se uma política de segurança pública se resumisse às Operações Policiais. Ao mesmo tempo, precariza as condições de trabalho e reduz a presença do Estado nas comunidades. Outro ponto em comum: no Rio de Janeiro também foi estabelecido um sistema de metas para a secretaria de segurança pública, semelhante ao nosso “Qualificar”. No projeto carioca, eram estabelecidas metas quantitativas, com premiação para as regionais que atingissem a maior pontuação.

Essa concepção, que trata a segurança pública como uma empresa que precisa alcançar números, levou o Rio de Janeiro à situação que se encontra hoje. Sartori/PMDB tenta implementá-la no Rio Grande do Sul e teremos o mesmo resultado.

PMDB tenta implementar a mesma concepção nacionalmente

Porém, o mais grave de tudo isso, é que esta mesma concepção norteia a nova política nacional de segurança pública, que já começa a ser implementada pelo governo Temer/PMDB. Essa proposta segue a mesma lógica das políticas implementadas pelo PMDB no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. A lógica que somente a ação da polícia vai resolver o problema da segurança pública, sem a necessidade de uma ação integrada do Estado, levando saúde, educação e moradia para a população.

Dentro dessa concepção, as polícias investigativas e judiciárias ficam relegadas a segundo plano. Pois, nessa visão, a investigação é encarada como um obstáculo na busca de números e prisões. Em uma concepção onde é necesssário produzir números, prender e vencer uma guerra, a atuação de uma polícia que investiga, planeja e executa, não serve. Isso explica a política dos governos do PMDB, onde a Polícia Civil e a Polícia Federal são cada vez mais desprestigiadas em detrimento das polícias que praticam o policiamento ostensivo. O resultado disso é uma atuação, cada vez mais, irecionada para reprimir as camadas mais pobres da população. O trabalho de investigação, que poderia desmantelar os grandes grupos criminais, passa a ser encarado como um entrave à produção de resultados imediatos.

O futuro da Polícia Civil gaúcha está em jogo

Para o presidente da UGEIRM, Isaac Ortiz, “não podemos assistir passivamente esse desmantelamento da segurança pública. O que acontece hoje no Rio de Janeiro é muito sério. Se não fizermos nada, esse será o futuro que nos espera. O governo Sartori/PMDB faz no Rio Grande do Sul o que Sergio Cabral fez no Rio de Janeiro, temos que dar um basta nessa situação. Não é possível continuarmos aceitando viver com salários parcelados, sem promoções, com nossa aposentadoria sendo atacada e com um efetivo cada dia menor. O que o PMDB quer é transformar os Políciais Civis em carcereiros de delegacias e preenchedores de inquéritos. Mas nós não vamos permitir! Não será um governo que vai acabar com uma instituição construída durante décadas e que tem o respeito da população gaúcha”.

Uma policial do Rio de Janeiro resume o sentimento dos policiais do estado: “O sentimento na tropa toda é: quando será a minha vez? Será que amanhã eu vou ser assassinada? Ou vou receber a notícia de que mais um policial amigo foi assassinado? Eu amo muito ser policial militar, mas hoje em dia ser policial no Rio de Janeiro é carregar um atestado de óbito nas costas. A minha família quer que eu saia da polícia, eu já fiz minha faculdade, minha pós, mas eu estou na polícia porque eu gosto, não por necessidade”. Ortiz conclui com um aviso aos policiais gaúchos: “Se ficarmos parados esse será o nosso futuro. Carregar um atestado de óbito nas costas”.