Ano de 2023 tem o maior número de exonerações na história da Polícia Civil
Quando uma pessoa tem febre, esse é um sinal enviado pelo corpo sinalizando que o organismo está doente. A primeira providência, nesses casos, é uma intervenção buscando diminuir a temperatura do organismo. Porém, essa intervenção tem pouca eficácia, caso não se investigue os motivos que levaram à febre. As 64 exonerações na Polícia Civil em 2023, podem ser comparadas à uma febre no organismo que é a Polícia Civil gaúcha. Um claro sinal que a nossa instituição está ficando “doente”. Assim como nos casos de febre, é preciso uma intervenção imediata, no sentido de diminuir esses números e estancar a sangria de excelentes profissionais que estão deixando a Polícia Civil. Além disso, precisamos nos debruçar seriamente sobre o problema e identificar as motivações que têm levado esses policiais a abandonar a instituição.
Se considerarmos que em 2022 tivemos 43 exonerações, os números se tornam ainda mais alarmantes. De 2022 para 2023 verificamos um aumento de 48,8% no número de policiais civis que saíram da instituição. Nos últimos dois anos foram 107 policiais civis que largaram a Polícia Civil em busca de melhores salários e condições de trabalho. Se olharmos em um horizonte ainda maior de tempo, os números podem ser chamados de absurdos. Em 2020, apenas 16 policiais civis largaram a instituição. Ou seja, de 2020 para 2023 o aumento de exonerações teve um crescimento de 300%!
Queda no poder de compra dos salários da PC/RS é principal motivo para pedidos de exoneração
Em dezembro de 2018, ao final da implantação da tabela de subsídios da Polícia Civil gaúcha, a carreira de policial civil era uma das mais cobiçadas nos concursos para o serviço público. De lá para cá, essa realidade mudou consideravelmente. Nesses cinco anos, a categoria teve apenas 6% de reposição salarial. Se compararmos com a inflação de 58% do mesmo período, vemos uma queda brutal no poder de compra dos salários dos policiais civis. Com as perdas salariais da categoria, a busca por uma nova carreira do serviço público, com maior valorização e melhores condições de trabalho, é o caminho cada vez mais frequente tomado pelos policiais civis.
O Governador Eduardo Leite foi eleito e reeleito com o discurso da meritocracia. Um dos princípios básicos da meritocracia, é que bons salários atraem os melhores profissionais. Por esse princípio, assumido pelo atual governo, o achatamento salarial da Polícia Civil é uma forma de sucatear a Instituição, levando os melhores profissionais a pedir exoneração e buscar outras carreiras do serviço público.
Exonerações aumentam em meio a uma categoria desmotivada e sobrecarregada
Outro fator central que tem levado ao aumento assustador das exonerações, é a desmotivação causada pelas condições precárias de serviço, combinada com uma grande sobrecarga de trabalho. O grande déficit de efetivo, que é agravado pelo grande número de exonerações, e a grande quantidade de operações policiais e o número excessivo de horas trabalhadas, tem levado a categoria ao adoecimento físico e mental. Para muitos colegas, a única alternativa é a saída da Polícia Civil, até mesmo como uma forma de preservação da sua saúde.
O Vice-presidente da UGEIRM, Fabio Castro, alerta para o grave momento por que passa a Instituição: “essas exonerações significam mais do que a perda de valorosos colegas, que escolhem largar a polícia civil em busca de melhores condições de trabalho. Os números que estamos publicando mostram que a Polícia Civil está entrando em um caminho extremamente perigoso”. Fabio prossegue lembrando que “desde o início da década de 2010, a Polícia Civil passou por um processo de valorização e qualificação do seu quadro funcional. A implantação da tabela de subsídios não só atraiu pessoas extremamente qualificadas para os concursos da Polícia Civil, como trouxe motivação para os servidores que já estavam na instituição e que se qualificaram ainda mais para prestar um serviço cada vez melhor à população. O resultado disso, foi a queda constante nos índices de criminalidade e o reconhecimento da sociedade como um todo. Ao achatar os salários da polícia e negar a valorização desses servidores, o Governo envereda por um caminho que jogará por terra todos os avanços conseguidos na última década”.
O Presidente da UGEIRM, Isaac Ortiz, afirma que “só existe uma forma de reverter essa verdadeira avalanche de exonerações: valorizar o trabalho policial, reconhecendo e repondo as grandes perdas salariais da categoria, além de uma política contínua de progressão na carreira, com promoções periódicas e melhora nas condições de trabalho. Além disso, é preciso reverter os retrocessos na aposentadoria policial, reconhecendo que o trabalho policial é uma atividade de risco, que precisa ser tratada da mesma forma que as outras carreiras policiais, com uma aposentadoria com paridade e integralidade. Essas 64 exonerações são um aviso que precisa ser ouvido pelo governador Eduardo Leite”, encerra Isaac Ortiz.