Violência sai da mídia, mas continua nas ruas

No início do ano o jornal Zero Hora lançou uma série de reportagens especiais com o título “Crise na Segurança”. As reportagens mostravam como a violência estava incontrolável no nosso estado, apesar de não apontar, em nenhum momento, os verdadeiros responsáveis por isso. De lá para cá, o governo Sartori/PMDB não fez quase nada para alterar essa realidade apontada por Zero Hora no início do ano. Porém, a violência saiu das manchetes de capa do jornal e passou para as páginas internas, dividindo a editoria de polícia com as operações executadas pela Polícia Civil e Brigada Militar. O assunto do momento passou a ser a crise política no país e a polarização entre os pró e contra o Impeachment.
Porém, a violência continua no mesmo patamar, ou pior do que se encontrava no início do ano. Os casos de violência continuam se sucedendo com uma rapidez assustadora. A capacidade de reação dos órgãos de segurança vem se deteriorando mês a mês. Os investimentos do Governo Sartori/PMDB continuam contingenciados. Os policiais continuam com seus salários sendo parcelados, sem saber quanto receberão no fim do mês. As promoções continuam suspensas e a contratação de novos policiais não passa de uma promessa para um futuro incerto. Esta é a realidade da segurança pública no nosso estado, que, infelizmente, não aparece nas páginas da Zero Hora.
Casos de violência em plena luz do dia

Na tarde desta terça-feira, em plena luz do dia, às 13h30min, um rapaz de 25 anos foi morto com dois tiros no rosto, dentro de um quarto do Hospital Cristo Redentor, na Zona Norte de Porto Alegre. Um pouco antes, às 10h da manhã no bairro Teresópolis, um policial militar à paisana reagiu a um assalto dentro de uma lotação e matou o assaltante com dois tiros. No mês passado um médico teve uma arma apontada para sua cabeça, em pleno Posto de Saúde da Vila Cruzeiro. Essa é a rotina a que estão submetidos os gaúchos. Beiramos uma situação de ruptura do tecido social.
O mais grave dessa situação é que não conseguimos enxergar no governo Sartori/PMDB o menor sinal de reação a essa situação. Nenhuma proposta de segurança pública é apresentada. O governo se restringe a tentar dar respostas, muitas vezes midiática, a ação dos bandidos. Não existe política de segurança, apenas um suposto controle das finanças públicas. Parece que o governo Sartori/PMDB trata a segurança pública da mesma forma que lida com o salário dos servidores, no dia 29 ainda não sabe quanto vai pagar no dia 31. Uma total falta de planejamento.
Operações Policiais

Uma das tentativas de resposta apresentada pelo governo Sartori/PMDB são as Operações Policiais. Estas operações, muitas vezes, alcançam resultados expressivos. Porém, elas devem vir acompanhadas de outras medidas por parte do governo. Os policiais que participam dessas operações, muitas vezes, não recebem as devidas horas extras. As diárias para deslocamento dos seus locais de origem também não são garantidas. Além do já crônico déficit de pessoal, que faz com que os policiais tenham que dar conta da sua rotina, além de participar das Operações. Para que essas operações não sejam apenas ações isoladas, é preciso que o governo estabeleça uma política clara de valorização dos policiais, pagando horas-extras, efetuando as promoções e contratando novos policiais para combater o déficit de pessoal nos quadros da polícia. Além de acabar de uma vez por todas com a prática do parcelamento de salários.
Outra questão a ser levantada em relação às Operações Policiais, diz respeito ao planejamento, não só da sua execução, mas também dos seus desdobramentos na esfera judicial e no sistema penitenciário. As Operações não se encerram com a prisão dos bandidos. Ou seja, caso elas não façam parte de um projeto de segurança pública, elas tendem a cair no vazio, satisfazendo apenas à ânsia da população que quer ver bandidos sendo presos. Porém, com o caos nas penitenciárias, devido à falta de vagas no sistema carcerário, a tendência é que esses bandidos voltem para as ruas, ou então comandem o crime de dentro dos presídios.
Em resumo, o governo precisa atacar a explosão de violência em duas frentes. A primeira é imediata, com a valorização dos policiais, retomada das promoções, investimentos na segurança pública e contratação de novos policiais. Junto com isso, é preciso um projeto de segurança pública que tenha ações coordenadas nas várias esferas da segurança pública. Desde o policiamento ostensivo, passando por operações policiais de inteligência, reforma do sistema carcerário, trabalho em conjunto com o judiciário e atuação social nas comunidades conflagradas.
A população gaúcha não pode mais conviver com essa situação de violência. Fatos como os que ocorreram na última terça-feira não podem ser vistos como banais. Quando a violência muda de patamar, é muito difícil reverter o quadro. O que assistimos atualmente no Rio grande do Sul é a violência passando para um patamar diferenciado, onde a população amedrontada está perdendo a confiança no poder público. É preciso uma atitude firme, decidida e inteligente do governo, sob o risco de vermos o nosso estado refém dos criminosos.