UGEIRM cobra explicações sobre convocação de policiais civis para participação em atividade religiosa
A direção do sindicato teve conhecimento, nesta terça-feira (20), de um e-mail que foi direcionado pela Chefia de Polícia, pedindo que se procedesse a convocação de dez policiais civis de cada departamento, para a participação em uma homenagem (condecoração de heróis) na Igreja Universal do Reino de Deus.
A direção da UGEIRM enviou ofício questionando a Chefia de Polícia e Secretaria de Segurança Pública sobre a referida convocação, pois entende que a mesma é ilegal e extremamente problemática. Primeiro, por que, em se tratando de uma homenagem, os policiais civis deveriam comparecer de acordo com a sua vontade e não através de uma convocação, o que pressupõe uma obrigatoriedade do comparecimento à atividade.
Segundo que, por se tratar de uma homenagem em uma entidade religiosa, de nenhuma maneira é admissível que ocorra uma convocação para a participação. As atividades de cunho religioso são de foro íntimo, portanto qualquer tipo de convocação, além de ilegal, se confunde, até mesmo, com assédio religioso.
A terceira questão, é que nos surpreende a Chefia de Polícia não atentar para a total inconveniência de, em um período pré-eleitoral, fazer uma convocação para que policiais civis participem de uma atividade convocada por parlamentares com claros interesses eleitorais. A Polícia Civil, como expresso inclusive na nova Lei Orgânica Nacional das Polícias Civis, é uma carreira de Estado; colocá-la à disposição de possíveis interesses eleitorais é um grande risco à sua credibilidade. A Direção da Polícia Civil deveria ser a primeira guardiã dessa credibilidade, reconhecida não só na lei, mas também no dia-a-dia da sua atuação junto à sociedade.
Por último, é extremamente problemático que a Chefia de Polícia não questione os termos da homenagem proposta. Os Policiais Civis não são heróis, mas sim servidores públicos que prestam um serviço essencial para a sociedade, garantindo a segurança da população e, para isso, devem receber uma remuneração condizente com seu trabalho. Esse tipo de abordagem do trabalho policial tem servido para mascarar uma série de abusos sofridos pela nossa categoria. É esse tipo de discurso, que justifica a convocação para a participação em Operações Policiais sem que se pague o que é estipulado pela lei, como o pagamento antecipado das diárias e das horas extras na sua integralidade. A ideia de que os policiais são heróis, está na raiz dos sérios problemas de saúde mental enfrentados por esses servidores. Transformar os policiais em heróis, é jogar em cima desses servidores, que trabalham em condições extremamente difíceis e que lidam diariamente com o pior lado da sociedade, uma pressão absurda. Jogar sobre os ombros dos policiais a “missão” de “salvar” a população, tem levado a nossa categoria a índices de suicídio muito superiores aos do restante da nossa população.
Esperamos que a direção da Polícia Civil reveja essa convocação, respeitando o direito dos policiais civis e suas opções pessoais em todos os níveis, inclusive religiosas. Além disso, a Chefia de Polícia deve ser a primeira a levantar as reflexões sobre como os policiais são tratados hoje em dia. Nós somos servidores públicos, qualificados e dedicados, que servem a sociedade. Não somos heróis que devem cumprir alguma missão sobre-humana. Queremos apenas ser tratados e respeitados como excelentes servidores que já demonstramos ser.
Veja os dois ofícios encaminhados à Chefia de Polícia e ao Secretário de Segurança Pública