A economia política das milícias

Renato Sérgio de Lima

‘Milícia não sobrevive sem braço político de apoio,  favores, vantagens, privilégios e carteiradas’.

Por Jacqueline Muniz*

As milícias são governos autônomos ilegais que operam nos territórios populares, exploram a vida econômica e regulam a vida social dos moradores. Para existirem e exercerem o seu domínio armado, com fins lucrativos, elas precisam contar com a tolerância e a vista grossa dos poderes públicos e as costas quentes de setores políticos. As milícias saem de dentro do Estado. Elas são compostas, na sua maioria, por agentes da lei. Milicianos não estão escondidos e nem são invisíveis.  Ao contrário, eles têm endereço e trabalho fixos no Estado,  são conhecidos, circulam entre autoridades, participam de festas VIPs, fazem a segurança de gente importante.  Eles são bem relacionados, posam de cidadão de bem e são chegados aos poderes políticos para os seus negócios poderem funcionar.

O negócio da milícia é produzir ameaças para vender proteção. É promover a guerra para vender a paz. Como um governo criminoso ela cobra taxas sobre a oferta de bens  e serviços essenciais.  Quem mora em locais sob domínio armado miliciano é coagido a pagar  o mesmo imposto várias vezes: paga para o Estado, paga para o governo miliciano.  Para o seu negócio funcionar tem que aumentar o sentimento de medo e a insegurança da população com tiroteios, falsas operações. Tem que ter apoio político velado.

Milícia não sobrevive sem braço político de apoio,  favores, vantagens, privilégios e carteiradas. Por isso, ela é financiadora de campanhas eleitorais. As carreiras políticas servem como um ótimo investimento criminoso. Estas carreiras políticas são uma importante lavanderia do dinheiro extorquido da população pela milícia.

Assim, mesmo com a Pandemia, a cobrança de taxas pela milícia não parou. Ela tem obrigado os comerciantes abriram as portas, moradores a pagarem as taxas de proteção. Sem arrecadação a milícia enfraquece, perde poder no território e influência política por cair sua contribuição para o Caixa 2 de candidaturas políticas [Nota do Blog: informações parciais estimam que algumas milícias do Rio de Janeiro chegam a arrecadar mais de R$ 300 milhões por ano].

A milícia é a Polícia ‘DOS BENS’  que tem acuado e tirado das ruas a Polícia ‘DO BEM’, deixando os moradores reféns do Estado duas vezes: da polícia miliciana e a polícia de operações que não é capaz de policiar territórios e população.  Faz tempo que os policiamentos em certas regiões são feitos por grupos criminosos.  A segurança pública tem que voltar a ser administrada pelo Estado e não ser mais terceirizada para firmas clandestinas, grupos armados, etc.

É preciso que o executivo, o legislativo e o judiciário, juntos, retomem o controle da segurança. Só assim a insegurança deixará de ser um projeto político-criminoso  milionário que tem dado certo entre nós.

*Professora da UFF