Policiais Civis e Militares tomam as ruas de Porto Alegre contra o atraso de salários

Nem mesmo a insistente chuva que caiu sobre Porto Alegre diminuiu a disposição dos policiais civis gaúchos. Milhares de manifestantes tomaram as ruas da cidade para protestar contra o atraso de salários, a criação da alíquota extra para a Previdência, a morte de policiais em serviço e a não publicação das aposentadorias policiais.

Policiais do interior viajam a noite toda para participar da Marcha

Para os policiais do interior, a mobilização para participar da Marcha começou na noite anterior. Vários ônibus partiram dos quatro cantos do estado e cruzaram a madrugada na estrada. Alguns não conseguiram chegar a Porto Alegre, como os colegas de São Luiz Gonzaga e Santiago, que tiveram seu ônibus enguiçado na estrada, no meio da madrugada. Mesmo com todos os contratempos, a participação do interior foi massiva. Na manhã da terça-feira (17), os ônibus já começavam a tomar os arredores da sede da UGEIRM e do Palácio da Polícia.

No final manhã, a frente do Palácio da Polícia já estava tomada por Policiais Civis. Em cima do carro de som, representantes de todas as regiões eram unânimes em suas falas: não é mais possível suportar o atraso de salários, o déficit de pessoal e ainda ter que conviver diariamente com as ameaças a aposentadoria policial. Em várias intervenções, também eram lembradas as mortes de colegas em serviço e ressaltada a necessidade de se rever a forma como estão sendo realizadas as operações policiais.

Debaixo de chuva, policiais partem em Marcha e dialogam com a população

Após as falas no carro de som, os policiais saíram, debaixo de chuva, em Marcha pela Avenida João Pessoa, em direção ao Palácio Piratini. Durante a caminhada, os manifestantes procuraram informar a população sobre os motivos da manifestação. Ressaltando que mais do que salários, o que está em risco é a própria segurança da população gaúcha. Vários carros passavam buzinando em apoio aos manifestantes, enquanto os policiais caminhavam em direção à Praça da Matriz.

Na Praça da Matriz, Policiais Civis e Militares se unem contra o atraso de salários

Ao chegar na frente do Palácio Piratini, os Policiais Civis encontraram centenas de Policiais Militares e Bombeiros, que já estavam na praça. Unidos no mesmo carro de som, os representantes das categorias se dirigiram aos manifestantes. O presidente da UGEIRM, Isaac Ortiz, lembrou das famílias dos policiais mortos em serviço: “Um deputado teve a ousadia de nos chamar de privilegiados. Num dia como hoje, eu convido esse deputado a ir na casa dos policiais que perderam a vida e perguntar aos familiares se eles são privilegiados”, falou Ortiz.

Representantes das entidades dos policiais militares e dos bombeiros, também destacaram a importância da união entre as policiais e atacaram o governo estadual, cobrando um diálogo efetivo com as entidades. Nas falas, o governo foi duramente criticado pelas ameaças que vem fazendo aos planos de carreira das polícias e às aposentadorias policiais.

Governador não recebe entidades e Chefe da Casa Civil não apresenta nada de novo

Após as falas no carro de som, os representantes das categorias solicitaram uma reunião com o governador Eduardo Leite, mas, infelizmente, só conseguiram um encontro com o Chefe da Casa Civil, Otomar Vivian. Na reunião, as categorias expuseram, ao representante do governo estadual, os motivos da manifestação e cobraram um posicionamento concreto a respeito do atraso de salários e das propostas de alterações nas aposentadorias policiais. O representante da UGEIRM cobrou do governo a publicação das aposentadorias que ainda se encontram represadas na Casa Civil.

O Secretário Otomar Vivian não apresentou nada de concreto às entidades. Apenas informou que o governo vai aguardar o desfecho da tramitação da reforma da previdência em Brasília, para apresentar um plano, aos servidores públicos estaduais. Porém, alertou que mudanças precisam ser feitas nas aposentadorias, pois, segundo ele, o estado tem um déficit previdenciário de R$ 1 bilhão ao mês. O único compromisso assumido foi o de regularizar o pagamento dos salários até o final do ano.

Presidente da Assembleia Legislativa também recebe manifestantes

Após a reunião no Palácio Piratini, os representantes se dirigiram a Assembleia Legislativa, onde se encontraram com o Presidente da Casa, Luis Augusto Lara (PTB). O deputado Lara se mostrou solidário ao movimento dos policiais e afirmou que pretende discutir, com o governo, a destinação do dinheiro arrecadado com a venda de ações do Banrisul para a regularização dos salários dos servidores. O presidente da Assembleia, também informou que fará gestões para que as entidades possam se reunir com Tribunal de Justiça do Estado, para que se consiga uma unificação dos entendimentos sobre as Ações Judiciais contra o parcelamento de salários. Essa unificação poderá significar uma solução definitiva para a questão dos atrasos de salários por parte do governo do estado.

Mobilização e pressão vão continuar

O Presidente da UGEIRM, Isaac Ortiz, ressaltou a importância da Marcha de ontem. “A presença massiva dos colegas do interior e a grande representatividade da Marcha, demonstrou que o governo terá muita dor de cabeça se tentar retirar nossos direitos. Vamos continuar nos mobilizando. Além das atividades de rua, a UGEIRM vai prosseguir se reunindo com os parlamentares e com o governo, cobrando que esses projetos, como a criação da alíquota extra para a Previdência, sejam rejeitadas na Assembleia Legislativa. Aos colegas que se deslocaram das suas cidades, para protestar contra o atraso de salários e a retirada dos seus direitos, queremos dizer que são vocês que mantém a Polícia Civil gaúcha como uma das instituições mais respeitadas do Rio Grande do Sul. Agora, vamos continuar pressionando os parlamentares em suas bases eleitorais e preparar novas manifestações. Só vamos parar quando tivermos nosso trabalho reconhecido como se deve. Sem atraso de salários, sem alíquota extra, com um efetivo condizente com as necessidades da população e com nossas aposentadorias sendo publicadas”.