Movimento legítimo dos caminhoneiros paralisa o Brasil e expõe governo Temer
O Brasil foi tomado de surpresa na semana que passou. Uma greve nacional dos caminhoneiros bloqueou estradas por todo o país. Tarefas, antes simples, como abastecer o carro, pegar um ônibus, ou trocar o botijão de gás, se tornaram uma verdadeira odisseia para o(a) cidadão(ã). Escolas tiveram suas aulas suspensas, a própria polícia sofreu com a falta de combustível para realizar operações simples. A principal reivindicação dos caminhoneiros é bem simples, baixar o preço do óleo diesel. Para uma categoria que presenciou, em apenas um mês, o absurdo aumento de mais de 11% no principal custo do seu trabalho, parar as suas atividades foi uma consequência lógica. Portanto, antes de mais nada, é preciso ressaltar que os motivos que levaram à greve dos caminhoneiros são completamente legítimos.
Política do governo Temer para Petrobras está na origem do problema
Os aumentos abusivos dos combustíveis impactam não só nos custos dos caminhoneiros, mas no custo de vida de todos os(as) brasileiros(as). A sensação que os(as) cidadãos(ãs) experimentam todas as vezes que chegam no caixa do supermercado, não é falsa. O custo de vida teve um aumento absurdo no último período. A origem desses aumentos está na política de preços praticada pela Petrobras desde outubro de 2016, com a mudança na presidência da estatal. Com a posse de Pedro Parente, ex-assessor da empresa RBS e ministro do apagão no governo FHC, a Petrobras começou a repassar, automaticamente, a variação dos preços internacionais do barril de petróleo para o combustível cobrado nas bombas dos postos de gasolina. Essa política levou a um aumento de mais de 50%, em um ano, no preço do diesel cobrado dos caminhoneiros. Pouco antes da greve, alguns caminhoneiros relataram até três reajustes de preço no mesmo dia. Nenhuma atividade econômica consegue se sustentar com esse grau de insegurança.
Política da Petrobras busca satisfazer acionistas e especuladores
Qual teria sido o motivo de uma mudança tão brusca e absurda como essa? Quem ganha com essa nova política? Responder a essas perguntas, pode identificar os setores interessados na alta dos preços do combustível. O preço do petróleo, internacionalmente, é influenciado por várias questões. Movimentos geopolíticos, aumento e diminuição da produção, especulação no Mercado de Ações e disputas entre gigantes, como EUA e China, tornam esse Mercado um dos mais voláteis no mundo. Por isso, a maioria dos países procura proteger esse setor estratégico de alguma forma. Antes da posse de Pedro Parente, a Petrobras adotava a política de somente repassar para o preço dos combustíveis variações consolidadas em um período maior de tempo. Essa política evitava a influência das variações especulativas que, normalmente, acontecem no curto prazo.
Se é importante garantir a saúde financeira da empresa, mais importante ainda é manter a saúde financeira do país. A política do governo Temer, com a justificativa de garantir os lucros dos acionistas da Petrobras, jogou o país em um caos inédito. Todo possível ganho que a Petrobras teve com o repasse dos reajustes internacionais para os preços, foi perdido com uma semana de greve dos caminhoneiros.
Tarifaço do Sartori/MDB também contribuiu para a alta nos combustíveis dos gaúchos
Outro grande responsável pelo preço dos combustíveis, é a taxação feita pelos governos. Não é a toa que quase toda a discussão para baixar os preços, passa por desonerações fiscais e corte de impostos sobre os combustíveis. No caso do Rio Grande do Sul, o tarifaço promovido por Sartori/MDB no seu primeiro ano de governo aumentou a cobrança de ICMS sobre combustíveis para 30%. Essa alíquota é uma das maiores do país, o que leva a nossa gasolina a ser uma das mais caras do país. Na época do Tarifaço, a UGEIRM já alertava que o aumento de impostos não conseguiria melhorar o caixa do governo e, por outro lado, prejudicaria a retomada da atividade econômica do RS. O resultado está aí: os salários dos servidores continuam parcelados, depois de dois anos e meio, e a crise só se agravou, com a arrecadação de impostos do governo caindo e os preços aumentando.
Mesmo com todo o caos trazido pelo desabastecimento, o discurso do governo Sartori/MDB continua o mesmo. Se nega a pensar em redução da alíquota do ICMS sobre os combustíveis. A justificativa é que isso poderia impedir a assinatura do malfadado acordo de renegociação da dívida com a União. Enquanto os(as) gaúchos(as) sofrem com a falta de combustíveis e até de insumos básicos, o governo Sartori/MDB está preocupado a sua obsessão, que é o Regime de Recuperação Fiscal da União.
Somente mudança na política de preços da Petrobras solucionará a crise
O governo Temer, até agora, só apresentou soluções paliativas. Reduzir impostos temporariamente não vai resolver o problema. A solução passa, necessariamente, por mudar a política de preços da Petrobras. A empresa precisa retomar a sua verdadeira função: abastecer o país e garantir o combustível necessário para que o Brasil funcione. Para isso, é preciso uma política de preços que combine a saúde financeira da empresa com a proteção do preço dos combustíveis cobrados dos brasileiros.
Além disso, já passou da hora do país rever a sua opção pelo rodoviarismo. É necessário uma radical diversificação dos modais de transportes no Brasil. Retomar o transporte ferroviário, que foi sucateado e depois privatizado no governo FHC, e incrementar o transporte fluvial e marítimo, não só pode baratear os custos de produção no país, como nos torna menos dependente das variações de preços do petróleo no mercado internacional. A única dúvida é se um governo que já acabou, como o de Temer, conseguirá implementar uma política como essa.