O que está por trás dos juros bancários que os policiais pagam todo início de mês

Há 32 meses os policiais civis gaúchos são submetidos a uma humilhante rotina: recorrer ao empréstimo bancário para pagar suas contas do início do mês. Com os seguidos atrasos de salários, a única opção que restou aos servidores públicos gaúchos, foi a linha de crédito, conhecida como Banrisalários, disponibilizada pelo banco público estadual aos servidores que não recebem seus salários em dia. A taxa cobrada pelo Banrisul, nessa modalidade, é uma das menores do mercado, média de 1,2% ao mês, ou 15,38% ao ano. Caso o servidor opte por um empréstimo bancário padrão, a taxa é bem maior, por volta de 35% ao ano.

Mas quem decide essas taxas? Os bancos têm autonomia para decidir o quanto cobram? O que é a taxa SELIC e porque ela  é a mais baixa de todas? Essas perguntas devem povoar a cabeça dos servidores todo início do mês, quando eles se encaminham às agências do Banrisul para pedir seu empréstimo para pagar suas contas.

Quem decide os juros bancários?

Os juros são decididos pelos bancos, de acordo com cálculos que incluem: o custo de captação desse dinheiro, ou seja, a taxa SELIC do Banco Central; o risco de inadimplência; e o retorno dos bancos, também conhecido como o lucro dos banqueiros. Não existe nenhuma regulação por parte do Estado, os bancos cobram o valor que acharem melhor e que seja competitivo no Mercado. Como, no Brasil, a concentração bancária é cada vez maior, com quatro bancos sendo responsáveis por quatro de cada cinco empréstimos realizados no país, podemos dizer que existe quase um cartel determinando os juros bancários cobrados dos cidadãos brasileiros. Talvez isso explique os juros absurdos do Brasil, entre os maiores do mundo.

Porque os bancos não cobram a taxa SELIC nos seus empréstimos?

Muitas pessoas devem se perguntar: porque os jornais anunciam todo mês que a taxa SELIC é de 6,5% ao ano e, quando vou pedir empréstimo, os juros cobrados pelos bancos são quase seis vezes maiores? A explicação está no que os bancos chamam de risco para a concessão de empréstimos e na margem de lucro dos bancos.

Quanto a este último ítem, basta dizermos que em 2017 o lucro acumulado dos quatro maiores bancos brasileiros chegou a R$ 57,36 bilhões. Para efeito de comparação, em 2016 foram gastos por volta de R$80 bilhões em segurança pública em todo o país, incluídos os investimentos federais, estaduais e municipais. O lucro dos quatro maiores bancos brasileiros representa quase 70% do total investido em segurança pública no Brasil. Sem dúvida, ser banqueiro no Brasil é uma atividade bem lucrativa.

Quem são os conselheiros que decidem a taxa SELIC?

Olhando as taxas cobradas pelos bancos, a taxa SELIC parece ser bem em conta. Mas a realidade é outra. Mesmo a taxa SELIC pode ser considerada absurda, se comparada com as taxas cobradas em outros países. A taxa básica de juros no Brasil está entre as cinco maiores do mundo. Nos países com economias do mesmo porte da brasileira, as taxas chegam a ser negativas, ou seja, menores do que a inflação.

Quem decide essa taxa é o Conselho de Política Monetária (COPOM) do Banco Central. Esse Conselho é formado por nove membros, todos indicados pelo presidente do Banco Central e aprovados em sabatinas no Senado. Dos atuais membros, cinco têm origem no próprio Mercado, com carreira em instituições financeiras privadas, incluindo o presidente do BC, Ilan Goldfajn, que foi sócio e economista chefe do Banco Itaú, que obteve em 2017 o maior lucro entre os bancos brasileiros, simplesmente R$ 24 bilhões. Ou seja, a maioria dos conselheiros responsáveis por estabelecer as taxas que vão ser responsáveis pelos lucros dos bancos, são provenientes desses próprios bancos. Os outros quatro conselheiros são funcionários de carreira do Banco Central.

Nossos juros pagam os lucros dos banqueiros

Toda vez que um policial civil gaúcho estiver na agência do Banrisul e olhar a taxa de juros do empréstimo que vai substituir seu salário, é bom lembrar que, por trás daquele valor, está um conselho composto, na sua maioria, por pessoas ligadas aos bancos. E que aqueles juros pagos, vão contribuir com os lucros de mais de R$ 50 bilhões que os bancos terão ao final do ano.

Então, quando não receber seu salário e tiver que pedir empréstimo, além de maldizer o dia em que o governador Sartori/MDB tomou posse no Piratini, os policiais podem agora incluir na sua lista os bancos nacionais, que lucram com o seu atraso de salários. Aliás, esses mesmos bancos são os maiores doadores das campanhas eleitorais no Brasil. Pode ser mera coincidência… Será? Por via das dúvidas, é bom se informar quem são os doadores de campanha dos candidatos nas próximas eleições.