Alta adesão marca protesto de servidores contra o parcelamento dos salários

Por Caroline Ferraz/Sul21Por Luís Eduardo Gomes (Sul 21)

Milhares de servidores bloquearam desde o início da manhã desta segunda-feira as entradas do Centro Administrativo Fernando Ferrari (Caff), prédio que abriga quase todas as secretárias do governo do Estado, além de outros órgãos, para impedir a entrada de colegas em protesto contra o parcelamento dos salários do funcionalismo público, anunciado na última sexta-feira. Posteriormente, eles marcharam em direção ao Palácio Piratini, onde líderes sindicais foram recebidos pelo chefe da Casa Civil, Márcio Biolchi.

O ato, que começou por volta das 8h, com servidores bloqueando os dois principais portões de acesso ao Caff e também da Secretaria de Educação (Seduc). Quem tentou entrar no prédio após às 8h15, precisou voltar para a casa ou se unir aos manifestantes. Antes disso, os servidores conseguiram entrar para trabalhar normalmente. Como não há controle de ponto, não há como precisar quantas pessoas conseguiram trabalhar nesta segunda.

Munidos de bandeiras, faixas, cartazes, e contando com o apoio de carros de som e de charangas, os servidores a todo momento gritavam palavras de ordem contra o governo do Estado, como: “trabalhador na rua, Sartori a culpa é tua”. Entre as bandeiras presentes, destacavam-se as do Centro dos Professores do RS (Cpers), Sindicato dos Técnicos-Científicos (Sintergs), Federação Sindical dos Servidores Públicos do Estado (Fessergs), Sindicato dos Servidores Penitenciários do Estado(Amapergs), Sindicato dos Servidores Públicos do (Sindsepe), Sindicato dos Servidores da Procuradoria Geral do Estado (Sindispge), Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas e de Fundações Estaduais (Semapi), Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas) e Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário (Sindijus), categoria do judiciário que não teve o salário parcelado neste mês, mas prestou solidariedade. Também estavam presentes algumas bandeiras de partidos como o PSOL e PSTU.

Por Caroline Ferraz/Sul21Segundo estimativas das categorias, a paralisação desta segunda-feira teve alta adesão. Além dos trabalhos do Caff, também foram registradas paralisações nas escolas estaduais, Polícia Civil, Brigada Militar, serviços de saúde, Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), entre outros órgãos vinculados ao Poder Executivo.

“As informações que temos do interior e da Capital é de que há uma grande adesão. Até porque nossos professores estão, inclusive, sem condições emocionais de voltar para a escola”, disse Helenir Aguiar Schürer, presidente do CPERS. “Tivemos diversos professores que tiveram o constrangimento de ir fazer compras e não foram avisados de que o Banrisul descontou tudo que tinha para ser descontado, tornando o cartão bloqueado. Diversos professores e funcionários passaram por esse constrangimento”, complementou.

“Nós estamos segurando tudo. Não apenas do Daer, como no IPE, na Polícia, nas escolas, nos quarteis, nós estamos fazendo um dia de alerta para o governo para ele sentir que o vai acontecer ao longo do mês se ele persistir nessa política de enfrentamento com os servidores e a com sociedade gaúcha”, disse Sérgio Arnoud, presidente do Fessergs. “A adesão é muito grande. O movimento já é um sucesso, complementou.

Helenir salientou que, a partir de amanhã até o dia 17, as escolas do Estado devem funcionar em horário reduzido e que os professores irão se mobilizar para organizar discussões com os alunos sobre a crise do Estado. “Nós reafirmamos que tem saída e não é a proposta do governo do Estado, que é exterminar com 20 fundações do Estado, aumentar o ICMS. Essa é a saída fácil e é a saída de quem defende o Estado mínimo. Nós temos a convicção de que o Estado tem que ser aquele que esteja onde a população tem necessidade. O Estado mínimo não serve e é prejudicial para a população do Estado”, afirmou.

No dia 18, ocorrerá uma assembleia de todas as categorias do funcionalismo público do Estado. Segundo Helenir, a ideia é construir uma greve unificada com 40 categorias unificadas. “Se o governo não mudar a posição, é certo que vai haver uma greve geral”, disse.

A presidente do Cpers salientou ainda que os servidores vêm tentando dialogar com o governo e propor saídas para aumentar a arrecadação desde o início do ano. “Mas o governo não se mexeu. Esperou o caos para justificar a política que ele traz de volta, que é política do Brito (ex-governador Antônio Brito) de vender o Estado”, afirmou, acrescentando que ocorreram várias reuniões com o governo do Estado, mas que nenhuma proposta foi apresentada aos servidores.

O presidente da Fessergs acrescentou que o parcelamento dos salários está trazendo prejuízos para a economia gaúcha. “Nós gostaríamos que a sociedade toda estivesse envolvida e não apenas o governo emitindo através da imprensa os sinais de apequenamento do Estado. Corta salário, diminui circulação de dinheiro, diminui pagamentos ao comércio, diminui a atividade da indústria, diminui o recolhimento de impostos e aumenta o desemprego. Esse é um ciclo vicioso que vai prejudicar todo o Estado”, afirmou o Arnoud, acrescentando que, para a Fessergs, é preciso haver um diálogo para que seja feita uma auditoria na dívida do Estado e que esta possa ser renegociada com o governo federal, bem como o combate à sonegação, cobrança da dívida ativa e redução das isenções fiscais dadas a grandes empresas.

Marcha rumo ao Piratini

Por volta das 9h45, os servidores se deslocaram para a Avenida Borges de Medeiros e trancaram o trânsito no local nos dois sentidos. Momentos mais tarde, eles se deslocaram em marcha em direção ao Palácio Piratini. Naquele momento, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) estima que entre 1,5 mil e 2 mil manifestantes estavam presentes. Os sindicatos estimam que o número era superior a 4 mil.

Os servidores chegaram ao Palácio Piratini por volta das 10h50. Após uma breve negociação, as principais lideranças dos sindicatos foram recebidos pelo secretário Biolchi para uma reunião a portas fechadas.