O Bicho vai pegar, artigo de Cláudio Brito

Todos pagaremos a conta, a menos que providências decisivas sejam adotadas com urgência”, afirma o jornalista Cláudio Brito na coluna Opinião, do dia 27 de abril, no jornal Zero Hora sobre a violência que toma conta do Estado. O artigo titulado de “O Bicho vai pegar” além de denunciar problemas estruturais da segurança pública do Estado, enfatiza a urgente necessidade da nomeação dos aprovados no último concurso para suprir o déficit de pessoal e a gravidade no descumprimento do reajuste.

Leia aqui o artigo na íntegra:

O BICHO VAI PEGAR

Ninguém pense que seja apenas coincidência. Nem imagine tratar-se de caso raro, isolado. Estamos vivendo uma guerra de verdade, do mesmo jeito que os cariocas experimentam há mais tempo. Igual a tudo que os paulistanos conhecem na periferia de sua cidade. O crime avançou o sinal e o que vem por aí pode custar caro. Todos pagaremos a conta, a menos que providências decisivas sejam adotadas com urgência.

Todos os dias recebemos notícias de prisões de traficantes e pesadas apreensões de drogas, armas e outros bens da bandidagem. Ainda assim, são visíveis os resultados terríveis do embate entre facções criminosas, que comandam de dentro das cadeias as ações de guerrilha de seus comparsas aqui fora. Nos últimos dias aconteceram atentados, execuções, incêndio, toque de recolher, desaparecimento de pessoas das comunidades sufocadas pelas quadrilhas e comemoração dos vitoriosos nas galerias do Presídio Central. Perdeu-se o controle, mesmo que as polícias esgotem suas possibilidades em esforço redobrado de seus agentes. Há delegacias que não podem  ficar abertas tanto quanto deveriam. Faltam policiais para as trocas de turno, horas extras não podem ocorrer e outros prejuízos atingem o cotidiano das corporações.

Talvez aconteça uma paralisação de profissionais das várias categorias ligadas à segurança pública, o que agravaria ainda mais a situação. Os motivos das entidades representativas de nossos policiais são justos, indiscutíveis, como é o caso da remuneração, pois há uma possibilidade de descumprimento de leis que, no passado, os deputados aprovaram em decisões unânimes, estabelecendo um escalonamento de reajustes até 2018. Mexer nisso pode caracterizar ofensa ao princípio da irredutibilidade salarial.

Outra preocupação vem  da defasagem cada vez maior dos grupos de servidores. Tem mais gente aposentando-se que novos concursados ingressando na carreira. Há concursados que não são chamados à nomeação e, mesmo que todos fossem logo aproveitados, ainda assim teríamos quadro com muitas vagas.

É o que tem a ser corrigido, redesenhado, alterado profundamente, ou não resistiremos. Pode ser que o bicho ainda seja uma ameaça distante, mas ele um dia vai pegar.