Relógio da violência: a cada quatro horas uma pessoa é assassinada no RS

Em meio à falta de recursos, novo governo aposta na integração das polícias Civil e Militar e no uso de tecnologia para diminuir indicadores.

Mesmo em queda, a criminalidade não para. A cada sete minutos, uma pessoa é assaltada no Estado. Em 25 minutos, outra será enganada por golpistas. Ao fim de 90 minutos, 13 terão sido roubadas, 22 furtados e cinco terão seus veículos levados por ladrões. Pouco mais de duas horas após, quando o ponteiro marcar três horas e 45 minutos, alguém será assassinado. Essa é a média dos crimes em solo gaúcho. Os dados dos 11 primeiros meses de 2018 representam o desafio do novo governo no enfrentamento à criminalidade.

Para conter os assassinatos, a intenção da nova chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor, é integrar o trabalho de dois departamentos: homicídios e narcotráfico. A explicação está na motivação das mortes violentas, vinculada à disputa por pontos de drogas, desavenças das facções ou dívidas de usuários.

— Muitas vezes, uma arma apreendida em investigação do Denarc (Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico) pode ser a mesma que foi utilizada num homicídio – explica.

Na Brigada Militar, a receita é aumentar o policiamento em locais de conflito. Para isso, o comandante-geral, Mario Ikeda, conta com 2 mil soldados em formação até julho. O oficial espera conseguir chamar outros 2,1 mil concursados.

Estupros e feminicídios alertam corporações

A violência doméstica também preocupa as polícias, num cenário de aumento de casos de feminicídios e estupros. Na comparação com 2017, as mortes de mulheres por questões de gênero cresceram 11,6%, de 77 para 86 vítimas. Estupros tiveram elevação de 3%, com 1.565 casos. Uma das alternativas da BM é aumentar as patrulhas Maria da Penha, presentes em 27 cidades. Já na Polícia Civil, a intenção é ampliar a participação nas ações de prevenção, identificando mulheres em risco, e atuar com órgãos como o Ministério Público para tratar agressores.

— Muitas vezes, a mulher se empodera, denuncia, mas meses ou anos depois, a gente pega o mesmo agressor com outra vítima. É um ciclo. É o comportamento dele, o sentimento de posse, de propriedade da mulher, e, por isso, ele mata — analisa a chefe de Polícia.

Na esfera dos crimes patrimoniais, as polícias prometem atenção aos assaltos: em média, são 200 casos a cada dia. Ikeda considera roubo delito de “difícil redução”, pela rapidez com que acontece:

– São crimes de pequena monta, mas de grande impacto para a percepção de segurança da população.

Ainda nos delitos contra o patrimônio, preocupa a incidência de roubos e furtos de veículos. Em 11 meses de 2018, foram 28,4 mil casos – 3,6 mil a menos do que em 2017. Apesar da redução, esse tipo de crime pode terminar de forma mais grave. Em 2016, a morte de uma mulher em frente a uma escola, onde aguardava o filho, durante roubo de carro, na zona norte de Porto Alegre, culminou na demissão do secretário da Segurança, Wantuir Jacini, e na vinda da Força Nacional à Capital.

— Cada roubo de veículo é um potencial latrocínio (roubo com morte). A gente precisa evitar esse tipo de crime. Para isso, é necessário identificar as associações criminosas e unificar as investigações das delegacias — adianta Nadine.

No interior do Estado, uma das prioridades é o combate aos ataques a bancos. Foram 175 furtos e assaltos a agências. Desses, são 70 roubos, cinco a mais do que em todo 2017. Dezembro ficou marcado por episódios violentos. Um dos confrontos com a BM, em Ibiraiaras, acabou com seis ladrões mortos, além do subgerente do Banco do Brasil, que havia sido feito refém do bando.

— A polícia tem de chegar antes, trabalhar para evitar. Depois que acontece, muitas vezes, acaba em confronto. Nenhuma polícia quer isso. A gente não vai para a rua buscar confronto, e sim a pacificação — conclui a delegada.