Senado aprova autonomia do BC e coloca bancos no comando da economia

Em um momento em que todas as atenções estão voltadas para as eleições dos EUA e para o absurdo caso do estupro de Mariana Ferrer, o Senado brasileiro aprovou a polêmica proposta de autonomia do Banco Central. A proposta é uma antiga reivindicação do setor especulativo e das instituições financeiras privadas brasileiras.

A autonomia do Banco Central, é uma forma de retirar dos presidentes eleitos a capacidade de gerir a economia brasileira. O texto-base foi aprovado nesta terça-feira, dia 3 de novembro, com 56 votos favoráveis e 12 contrários. A medida é defendida por especuladores, grandes investidores e banqueiros, agentes do mercado financeiro e é uma das bandeiras da equipe econômica do governo Jair Bolsonaro. Com a decisão, um novo presidente da República eleito em 2022 não terá ingerência sobre o BC e as políticas do campo monetário, especialmente em relação aos juros. Essa decisão dificulta a implantação de políticas compensatórias ou, até mesmo, a atuação do governo em situações de crise econômica, como a que vivemos esse ano. Na prática, significa a perpetuação de uma política econômica com foco no sistema financeiro. Pois, mesmo que os (as) eleitores (as) decidam pela mudança da política econômica, o presidente não poderá mexer no seu principal instrumento para aplicação dessa política, o Banco Central.

O BC é presidido atualmente por Roberto Campos Neto, banqueiro, ex-executivo do Santander. No Governo Temer, a instituição foi presidida por Ilan Goldfajn, executivo do Itaú Unibanco. Ou seja, é a perpetuação da prática de colocar as raposas para tomar conta do galinheiro.

Risco para o futuro

Apesar do apelo da expressão “autonomia”, que pode até enganar os menos avisados, a possível aprovação do projeto no Congresso Nacional traz um grande risco: o futuro presidente da República não terá mais poder para interferir nas decisões da instituição. Questões sobre a política monetária, que estão diretamente ligadas aos rumos das políticas econômicas estarão, em definitivo, nas mãos de banqueiros e especuladores. Caso o povo eleja um novo candidato para presidir a nação em 2022, a decisão fará toda a diferença. O futuro governo, pelo menos nas questões monetárias e econômicas, poderá ser como uma “rainha da Inglaterra”, sem ter como decidir e conduzir os destinos da economia do país.